terça-feira, 12 de março de 2019

Curiosas (e engraçadas) expressões e palavras portuguesas (...)


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Fico a imaginar… Assim como eu acho graça no modo de os portugueses falarem e estranhar algumas palavras e expressões do dia a dia deles, eles próprios devem achar a mesma graça ao me ouvirem falar e utilizar expressões tipicamente da nossa língua – embora eu, estando cá em Portugal, evite falar muito rápido e também carregar no meu sotaque, este que já é uma mistura de paulistano com gaúcho. Pois este é mesmo o tema de hoje: expressões e palavras portuguesas que me soam estranhas e/ou engraçadas.

Aliás, nunca ouvi tanto Pois em toda a minha vida. Pode significar desde um simples “Sim”, um cumprimento (ex.: uma pessoa diz: Bom dia! E a outra responde: Pois!) ou mesmo o que ele se propõe a ser e é – uma conjunção – em ambas as línguas portuguesas: 1. Por conseguinte, portanto, logo. 2. Então, nesse caso. 3. No entanto, mas. 4. Visto que, porquanto, pois que, porque – ou como advérbio: 5. Pois sim, pois claro, por certo, pois não (empregando-se também como partícula expletiva: Pois hei de sair com este tempo).

Ah, pá acho engraçado demais; pode estar no início ou no meio da frase, seria o “you know” que os norte-americanos falam constantemente no dia a dia. Equivalente ao nosso “Então”, mas pode ser também o nosso “Não é”, “Né”.

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Não há hipótese: a nós parece ser tão formal esta expressão, existente na nossa língua portuguesa brasileira, e quer dizer mesmo que “não há a menor possibilidade” ou, no bom e velho coloquialismo, “não dá para fazer” etc., mas em Portugal é uma expressão falada corriqueiramente, bem como Não faz sentido, que quer dizer mesmo isso, que “não faz sentido”.

Porreiro: diz-se quando algo agrada ou tem qualidades positivas (ex.: tipos* porreiroscasa porreiraambiente porreiro). É o belo, bom, curtido, excelente, ótimo. É ainda aquele que inspira simpatia (ex.: o colega dela é um porreiro). Utilizado também como interjeição informal: exclamação usada para indicar admiração, aprovação ou entusiasmo (ex.: porreiro, pá!). Sempre que ouço, preciso me controlar para não rir escancaradamente, pois é difícil não lembrar do nosso “Porra!”, que nada tem a ver com o significado de Porreiro! Um sinônimo geral de Porreiro! é Fixe! – o mesmo que nosso “Legal!”. Tem também o Giro! ou Muito giro!, que pode ser “bonito”, “lindo” (ex.: saia gira); “elegante” (ex.: estás gira, hoje), “interessante”, “com qualidade” (ex.: livro giro) ou “que tem qualidades positivas” (ex.: ele teve uma atitude gira).

Ah, e para não deixar passar, o nosso “Porra!” (ou “Nossa!” ou “Putz!”) é mesmo Fogo! para eles.
*Tipo = qualquer pessoa cujo nome se desconhece ou se quer omitir; fulano, gajo**, indivíduo, sujeito. **Gajo =rapaz.

Caraças! como interjeição exprime espanto, impaciência ou indignação. Posso afirmar que, se estivéssemos no Brasil, esta interjeição seria o nosso “Caramba!” ou “Caralho!” ou mesmo “Porra!”.

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Outros significados:
Como o caraças ou Para caraças: com grande intensidade; em grande quantidade.
Do caraças: muito grande (ex.: és um mentiroso do caraças) = do canecodo catano; admirável, espetacular ou sensacional (ex.: o filme é do caraças) = do catano.
O caraças: exclamação que indica desacordo relativo a afirmação anterior (ex.: figura incontornável, o caraças).
Estou lendo o terceiro livro, chamado O Reino do Meio, de uma trilogia (que inclusive indico!) escrita por um jornalista e escritor português muito aclamado chamado José Rodrigues dos Santos, onde nos diálogos aparece bastante a expressão …, pois não? no fim das frases (ex.: ela não seria capaz de uma coisa dessas, pois não?), o que seria equivalente ao nosso “…, não é?”, “né?” ou “…não é mesmo?”.

Vive a lamber as botas! Está aí algo que nunca consegui fazer: “Puxar o saco” de ninguém que seja, embora eu reconheça que isso faça parte (essencial) do mundo (podre) corporativo.
Se você “vai lá, a qualquer lugar”, como bom aprendiz de português de Portugal, diga sempre que vai lá ter, seja para beber um copo (“tomar uma” – uma cerveja, um drink, uma qualquer coisa alcoólica), seja para simplesmente “encontrar alguém”. E, se for sexta-feira então, vem mesmo a calhar, ou seja, “apresentar-se a ocasião”, “agradar”, “ficar bom”. Entretanto, se calhar é melhor confirmar a previsão do tempo porque “talvez”, “é possível que”, “provavelmente” chova.

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“De cabo a rabo” é de fio a pavio (ex.: ler tudo de fio a pavio). Folgo em saber disso (“Bom saber disso”).
“Quer se livrar de alguém e colocar para correr”? Ponha-lhe uns patins (ex.: a ele já lhe pus uns patins).
Convém dizer Olá (“Oi”) ao atender o telemóvel (“celular”), embora a maioria diga Estou ou simplesmente  (“Alô”) após tocar no ecrã (“tela”). Ao se despedir, seja gentil e diga Com licença (equivalente ao nosso “Tchau”).
Para limpar a casa de banho (“banheiro”) bom mesmo é lixívia (“água sanitária”), a deitar (“jogando/colocando”) na sanita (“vaso sanitário”) sem puxar (“apertar”) o autoclismo (“descarga”).



No autocarro (“ônibus”), comboio (“trem”), eléctrico (“bonde”), a conduzir umaviatura descapotável ou não (“dirigindo um carro conversível ou não”, um camião (“caminhão”), uma mota (“moto”) ou mesmo de boleia (“de carona”), o alcatrão (“asfalto”) é, em geral, de qualidade, com alguns trechos em exceção. É fácil se localizar, pois nas paragens (“pontos de ônibus”) tem mapas, linhas/nomes dos ônibus, horários e o tempo restante de cada um a passar. O importante é cuidar sempre com a passadeira (“faixa de pedestres”), pois, ao menor movimento do pedestre, é obrigatório parar.

É comum aos homens vestirem fato (“terno”), mas há os que prefiram as T-shirts(“camisetas”). E qual o problema se já até vi mulheres de fato de banho (“maiô”) caminhando pelas ruas do centro do Funchal em pleno verão?!
Assim como o brasileiro, o português adora uma tasca (“boteco”) para tomar um imperial ou fino (“chope”), mas são os talhos (“açougues”) que estão sempre a faturar.

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Nos supermercados, por um lado, tem vinhos dos bons a 2€, por outro lado o bagaço (“cachaça”) é caro! No frigorífico (“geladeira”) de casa não pode faltar fiambre (“presunto”), papaia (“mamão”) e sumo (“suco”) de laranja no pequeno-almoço (“café da manhã”), apesar de, na maioria dos dias da semana, eu optar pela chinesa ou média de leite (“café com leite”) na chávena (“xícara”). Presunto(“bacon”)

mesmo só na sopa de caldo verde que o Renato faz. Claro que, como boa paulistana, preferia (“preferiria”) tomar o pequeno-almoço em uma pastelaria (“padaria/doceria”) ou café (“lanchonete”), mas ficaria demasiado caro, no fim das contas.
Rebuçado é aquilo “que não se mostra totalmente”, “disfarçado”, “encoberto”, “oculto” em ambas as línguas portuguesas, mas em Portugal pode significar também “bala” (a guloseima). Falando nisso, “sorvete” é gelado – parece-me que por influência do gelato italiano.
Para finalizar, um bocado mais de A a Z de palavras soltas:
Agrafador é “grampeador”; alforreca é “água viva”; aceder é “acessar”.

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Biberão é “mamadeira”; betão é “concreto”; banda desenhada é “quadrinhos” (não me pergunte por quê ou de onde vem); bairro de lata é “favela” (que nem se compara às nossas favelas, diga-se de passagem!); bicha é “fila” (toda a gente/todo mundo sabe disso, inclusive os brasileiros, mas quem disse que me lembro de falar bicha em vez de “fila”?!).
Castanho, existente na nossa língua, é também o nosso “marrom” (se calhar os portugueses não entenderão se você disser “marrom”). Constipação além de ser “prisão de ventre”, como na nossa terra, é o nosso “resfriado”. Claque é “torcida”.
Dobragem parece-me um erro de quem não sabe falar “dublagem”. Dividir é “parcelar”.

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Esquadra é “delegacia”; equipa é “time/equipe”.
Miúdo é “moleque/criança”.
Tive uma certa dificuldade em encontrar “creme de leite” no supermercado, porque aqui é nata.
Pontapé de canto é “escanteio” (faz sentido, rs); paneleiro é “homossexual”; portagem é “pedágio”.
Quinta é “fazenda”.
Relvado é “gramado”; rés-do-chão é “térreo”.
Verniz é “esmalte”; vinil é “adesivo”.

Não te rales (“não te preocupes”), a vida é mesmo assim, a viver e a aprender, estás a perceber? (“entendeu?”). 

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Fonte de pesquisa para algumas expressões citadas neste texto: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (https://www.priberam.pt).

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