A pouco mais de um quilómetro da vila de Vagos, situada num local campestre, pitoresco e aprazível,convidativo à oração, fica a ermida de Nossa Senhora de Vagos cheia de história e tradição.
De D. Sancho I a D. Manuel I, todos contribuiram para engrandecer a Ermida. O local, por toda a envolvência é um espaço de reencontro ou de interiorização para todos os que precisam de pensar e respirar.
D. Sancho I doou a Ermida de Nossa Senhora de Vagos ao Mosteiro de Grijó, em 18 de agosto de 1200.
A ermida de Nossa Senhora de Vagos é uma das duas únicas igrejas documentadas na Terra de Vouga entre 1220 e 1320, no Rol das Igrejas do Bispado de Coimbra (1229), na Inquirição da Terra de Vouga (1282) e no Rol das Igrejas do Arcediago de Vouga (1320-21).
A edificação do primitivo santuário, segundo consta, remonta ao séc. XV. Em 1537, surge pela primeira vez nas fontes históricas o título de Nossa Senhora da Conceição de Vagos. Sobre a localização exacta da primeira ermida a tradição oral e escrita aconchega-se às Paredes da Torre.
O aspeto global que hoje apresenta provém de várias remodelações efectuadas ao longo dos séculos. As obras de restauração mais profundas e recentes, foram promovidas por uma comissão constituída pelo padre Carvalho e Silva, Armindo Fernandes, João Carlos Ribeiro, Daniel Redondo, Armando Martins Rei, Armando Dionísio, Eduardo Fernandes e Basílio de Oliveira. Estas foram inauguradas por D. Manuel de Almeida Trindade, Bispo de Aveiro, em 4 de maio de 1980.
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LENDA
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Surgimento da imagem
Conta a lenda que a imagem de Santa Maria de Vagos pertencia ao capitão de um navio francês que naufragou cerca de 1185 na costa de Vagos (Vagueira). Antes de se dirigir a Esgueira para pedir auxílio (Vagos pertencia a esta comarca), escondeu a imagem numa mata. Em Esgueira pediu ao pároco para o ajudar a recuperar a imagem para lhe dar um albergue digno. Contudo, quando chegaram à mata, acompanhados por devotos que iam ajudar, nada encontraram. D. Sancho I, então em Viseu, tem um sonho no qual lhe aparece a Virgem Maria que lhe sugere fazer uma peregrinação a Vagos e que edifique uma ermida para albergar a imagem que vai encontrar. O rei encontra sem dificuldade a imagem e manda construir a ermida e uma torre adjacente para a proteger de ataques de terra e mar. Numa outra versão desta lenda, foi um lavrador corcunda que, ao descobrir a imagem e ficar curado, mandou construir a ermida.
No que se refere à lenda, um fundamento histórico: em Esgueira existia um castelo, com registos de existência já em 1223, tendo evoluído provavelmente de um castro fortificado e o concelho de Esgueira está documentado em 1294.
Lenda da Senhora em Cantanhede
A devoção especial dos peregrinos originários de Cantanhede deve-se à lenda de que, em tempos de seca, o povo desta zona se dirigiu em procissão a Nossa Senhora da Varziela para implorar chuva. Ouviram um sino a tocar do lado do mar e dirigiram-se para S. Tomé de Mira, crendo que era de lá que vinha o som. Chegando lá verificaram que não era onde se originava o toque, e seguindo-o acabaram por chegar a Nossa Senhora de Vagos. Assim que chegaram começou a chover, e fizeram a promessa de peregrinar até lá todos os anos pelo mesmo caminho, na primeira oitava do Espírito Santo. Também instituíram o bodo de vaca, pão e vinho. Este era distribuído pela Câmara de Cantanhede, tendo ficado a partir de 1862 a cargo do pároco.
Na primeira peregrinação das gentes de Cantanhede, a imagem de Santa Maria de Vagos acompanha-as de volta à vila. Ali, foi colocada na capela do Senhor do Rocio. Contudo, três dias depois de chegar, quem foi a esta capela venerá-la verificou que já não se encontrava lá. Tinha regressado à sua ermida em Vagos.
Lenda de Estêvão Coelho
Estêvão Coelho, de Sandomil, Seia, estava doente com lepra. Em sonhos tem a revelação de que só na ermida de Santa Maria de Vagos será curado do seu mal. Com o seu séquito, empreende a viagem. Como sinal divino, consegue atravessar a seco um braço da ria, no Soalhal, coisa que os seus criados já não conseguem. Assim que chega à ermida é curado e faz o voto de viver para sempre no local. Doou à ermida os bens que tinha em Seia e Sandomil, e propriedades e marinhas que vai adquirindo em Vagos. Constrói um eremitério nas proximidades da ermida, e nela foi sepultado. Os seus restos mortais foram trasladados para a capela-mor a nova ermida do séc. XVI. Aquando das obras efetuadas no séc. XIX, de novo se descobriram os seus ossos e foram colocados sob o nicho de Santa Maria de Vagos (Carvalhais, 2000: 52, 53).
Quando se mudou o local de culto da capela primitiva para a atual, não foi transferida a sepultura de Estêvão Coelho. Nossa Senhora desaparecia da nova capela e voltava a aparecer na antiga, o que aconteceu quatro vezes. Até que se decidiu fazer a trasladação do túmulo de Estêvão Coelho, e aí já a Senhora permaneceu na nova capela (Pequena história de Nossa Senhora de Vagos. Fundação do seu santuário, história, tradições e milagres, 1949: 20).
Ainda hoje essa tradição se mantém numa manifestação de Fé e Amor e ainda hoje o pão de Cantanhede continua a ser distribuído em grande quantidade no largo da Nossa Senhora de Vagos.
Perto do actual santuário que, pelas lápides sepulcrais aí existentes, remonta ao século dezassete, construíram-se umas habitações onde de vez em quando se recolhiam em oração os Condes de Cantanhede e os Senhores de Vila Verde. Hoje, já não existem vestígios dessas habitações.
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Créditos:
https://www.cm-vagos.pt/p/nossa_senhora_de_vagos
https://on-centro.pt/index.php/pt/patrimonio/item/467-este-local-e-para-quem-quer-pensar-e-respirar
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